Kansas City (20.fev.2025) e Washington, D.C. (04.abr.2025) – Duas conferências realizadas nos Estados Unidos marcaram um novo momento na abordagem científica dos chamados Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs, na sigla em inglês). Em encontros distintos organizados pela Linda Hall Library e pela Sociedade Filosófica de Washington (PSW), especialistas de áreas como astrofísica, história da ciência e defesa aérea defenderam o avanço de políticas públicas, protocolos técnicos e investigações acadêmicas para tratar os avistamentos de objetos inexplicáveis no espaço aéreo.
O tema, antes restrito à especulação, foi tratado com seriedade por instituições como a NASA, que apresentou soluções técnicas para investigar UAPs, e por militares que testemunharam episódios não resolvidos.
Nome | Função | Cidade/Instituição | Programas ou eventos relacionados |
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Nadia Drake | Jornalista científica e moderadora | Freelance (National Geographic) | Cobertura científica sobre UAP desde 2017 |
LCDR Alex Dietrich | Piloto da reserva da Marinha dos EUA | Boulder | Testemunha do caso “Tic Tac” (2004) |
Greg Eghigian, PhD | Historiador da ciência | Penn State University | Autor do livro After the Flying Saucers Came |
Joshua Semeter, PhD | Diretor do Center for Space Physics | Boston University | Equipe independente da NASA sobre UAP |
De arquivos históricos a testemunhos militares: o debate em Kansas City
O primeiro evento, realizado na biblioteca científica Linda Hall, reuniu público e especialistas para contextualizar historicamente os relatos de objetos voadores não identificados. A jornalista Nadia Drake lembrou que o fenômeno sempre esteve no limite entre o mistério e a ciência, mas que o avanço de sensores e satélites permite agora uma nova abordagem, mais precisa e mensurável.
O historiador Greg Eghigian revisou os momentos-chave do interesse público e governamental por UAPs desde 1947, quando relatos de “discos voadores” ganharam atenção nos EUA. Ele destacou como a percepção pública evoluiu: do medo de espionagem na Guerra Fria ao fascínio com visitas extraterrestres nos anos 90, e agora à preocupação com drones e objetos de alta tecnologia não rastreada.
A parte mais impactante veio com o depoimento da piloto Alex Dietrich, testemunha do episódio do “Tic Tac”, registrado em 2004 por aviões do porta-aviões USS Nimitz. Dietrich relatou que viu um objeto branco sem asas, rotores ou exaustão térmica, manobrando de maneira incompatível com a física conhecida. Segundo ela, ainda hoje não existe um fluxo formal de coleta e análise de dados em casos assim, tanto para pilotos militares quanto civis.
“Testemunhar algo inexplicável e não ter a quem reportar com rigor científico é frustrante. Isso precisa mudar.”
Análises técnicas e desmistificação: o papel da NASA no evento de Washington
O segundo evento, realizado pela PSW (Philosophical Society of Washington), foi conduzido pelo físico e engenheiro Joshua Semeter, professor da Universidade de Boston e integrante da equipe independente da NASA criada para lidar com o tema dos UAPs.
Com apoio de imagens e dados públicos, Semeter fez uma análise minuciosa de três vídeos famosos gravados por sensores militares:
- “Gimbal”: O objeto que parece girar no vídeo não é o alvo real, mas um reflexo interno na lente da câmera.
- “Go Fast”: A ilusão de alta velocidade é causada pela geometria da câmera. O objeto, na verdade, se movia a cerca de 60 km/h, empurrado pelo vento.
- “Triângulos verdes”: Fenômeno causado pelo formato do diafragma da câmera com visão noturna, conhecido como efeito bokeh, e não naves em formato piramidal.
Semeter explicou que sensores infravermelhos não produzem imagens reais do mundo visível, mas sim representações digitais da radiação térmica. “Essas imagens são interpretações, não fotografias. Elas devem ser tratadas com muito cuidado técnico para não gerar conclusões precipitadas”, alertou.
Propostas práticas: monitoramento inteligente e ciência cidadã
A equipe da NASA propõe aproveitar a infraestrutura já existente para investigar os fenômenos, integrando sistemas como:
- Radares meteorológicos NEXRAD
- Satélites de monitoramento ambiental
- Câmeras científicas universitárias
Essa malha de sensores pode ser coordenada por algoritmos de inteligência artificial treinados para identificar padrões incomuns no espaço aéreo. O projeto dispensa a criação de uma nova estrutura federal e aposta na cooperação interinstitucional com FAA (Administração Federal de Aviação) e o Departamento de Defesa.
Além disso, foi apresentado um protótipo de aplicativo para celulares que transforma o usuário comum em um coletor de dados. A ferramenta usa geolocalização e sensores do celular para calcular ângulos e distâncias, permitindo reconstruir em 3D o local de origem de um avistamento. Quanto mais usuários capturarem o mesmo fenômeno de ângulos diferentes, mais confiável será a reconstrução.
“A coleta precisa ser descentralizada, mas a análise tem que ser técnica e rigorosa”, disse Semeter. “É assim que se evita cair no sensacionalismo ou na negação automática.”
A ciência como árbitra do desconhecido
Os dois eventos, apesar de diferentes em formato e público, convergiram em um ponto essencial: é possível investigar fenômenos aéreos anômalos com os mesmos princípios que orientam qualquer outra área da ciência — dados confiáveis, metodologia clara e revisão entre pares.
A mudança de postura também é política. Desde 2022, o Congresso dos EUA exige relatórios periódicos sobre UAPs, ampliando a pressão por respostas públicas e tecnicamente fundamentadas. A presença da NASA e de universidades no debate amplia a legitimidade do tema e oferece ferramentas para separar fato de especulação.
Ao final de sua palestra, Semeter resumiu a nova abordagem em uma frase:
“Investigar o inexplicável não é um ato de crença, mas um dever científico.”
Fontes
https://www.youtube.com/watch?v=SIbHsv1I8Ko
https://www.youtube.com/watch?v=ZmX5MJ5fv1c