Especialistas franceses das áreas de defesa, ciência e inteligência participaram de uma audiência inédita na França para discutir os avanços e desafios na investigação de fenômenos aeroespaciais não identificados, com forte referência ao cenário norte-americano. Relatos de militares, críticas à ausência de estratégia do governo francês e alertas sobre riscos de desinformação marcaram o encontro, que trouxe à tona o caso histórico de 5 de novembro de 1990 e o impacto das revelações recentes nos Estados Unidos.
Nome | Cargo | Cidade/Instituição | Programas envolvidos |
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Bruno Mignot | General reformado da Força Aérea | França | CAPCOA, GEIPAN |
Sylvain Maisonneuve | Ex-assessor de gabinetes ministeriais | Paris | Livro OVNI, l’enquête déclassifiée |
Luc Dini | Presidente da Comissão Sigma 2 da 3AF | França | Sigma 2, 3AF |
Baptiste Friscourt | Jornalista especializado | França / EUA | Acompanhamento internacional |
Caso francês de 1990 reforça necessidade de preparo
O general Bruno Mignot relatou em detalhes o episódio de 5 de novembro de 1990, quando milhares de franceses testemunharam luzes desconhecidas cruzando o céu. Como piloto militar na época, Mignot foi uma das testemunhas diretas da formação luminosa não identificada, registrada inclusive pela Gendarmerie de l’Air. O caso foi arquivado pelo GEIPAN, mas ainda hoje levanta dúvidas quanto à hipótese oficial de reentrada de um foguete soviético.
França está atrasada no debate institucional
Enquanto os Estados Unidos promovem audiências no Congresso com depoimentos de ex-militares e discussões abertas sobre engenharia reversa, a França segue sem resposta oficial coordenada. Sylvain Maisonneuve alertou que o país não possui estrutura estratégica para lidar com um evento público e inegável, como uma manifestação aérea durante o desfile nacional de 14 de julho.
“Estamos diante de um tema que, se ignorado, pode gerar pânico ou desinformação caso um incidente real ocorra em solo francês”, afirmou Maisonneuve.
Falta de vontade política e medo de associação com conspirações
Apesar do prestígio técnico do GEIPAN, vinculado ao CNES (Centro Nacional de Estudos Espaciais), a audiência ressaltou que falta apoio político e orçamentário. Segundo Baptiste Friscourt, a França tem tradição na análise desses fenômenos desde os anos 70, mas vive um retrocesso institucional por receio de que o tema seja vinculado ao sensacionalismo.
Estruturas militares existem, mas são subutilizadas
O general Mignot também lembrou que o país possui órgãos como o CAPCOA (Centro de Análise e Coordenação das Operações Aéreas), que poderia fornecer dados valiosos, mas não interage de forma sistemática com o meio científico. Luc Dini, da Comissão Sigma 2, defende a criação de pontes entre esses setores para desenvolver métodos técnicos confiáveis de análise.
Redes sociais e cooperação internacional: promessas e riscos
Outro ponto debatido foi o papel das redes sociais, que se tornaram fontes de dados valiosas, mas também podem propagar fraudes e interpretações errôneas. A Comissão Sigma 2 tem trabalhado para filtrar e cruzar essas informações com ferramentas técnicas. Já o GEIPAN mantém colaboração informal com agências de outros países, embora sem um tratado oficial de cooperação científica global.
Crise nos EUA serve de alerta
A audiência também analisou a repercussão da crise dos balões e drones nos Estados Unidos, que revelou diferenças importantes na postura governamental. Enquanto os norte-americanos reagem com rapidez, transparência e envolvimento legislativo, a França opta pelo silêncio e pela contenção institucional, o que poderia comprometer sua resposta em caso de crise semelhante.