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Vida em planetas alienígenas provavelmente não teria ciclos de dia e noite – como isso pode impactar a evolução

A cientista Maureen Cohen, associada de pesquisa na modelagem climática global de Vênus pela The Open University, traz um cenário fascinante sobre como a ausência de ciclos de dia e noite em planetas alienígenas pode influenciar a evolução da vida. Financiada pelo Conselho de Pesquisa do Meio Ambiente Natural e pelo Conselho de Ciência e Tecnologia, Cohen explora uma nova abordagem para entender como seria a vida em planetas habitáveis que orbitam estrelas anãs vermelhas, conhecidas como M-dwarfs.

A Escuridão Eterna dos Planetas em M-dwarfs

Segundo a cientista, estima-se que existam bilhões de planetas potencialmente habitáveis em nossa galáxia, a Via Láctea, que abriga entre 100 a 400 bilhões de estrelas. Um estudo de 2013 revelou que 41% das estrelas M-dwarfs possuem planetas orbitando na “zona habitável”, uma região onde as condições permitem a existência de água líquida, essencial para a vida. Isso representa cerca de 28,7 bilhões de planetas. Entretanto, ainda não sabemos se esses planetas possuem água ou vida.

Esses planetas, conhecidos como “M-Terras” (planetas rochosos em zonas habitáveis de estrelas M-dwarfs), diferem da Terra em vários aspectos fundamentais. Um dos principais fatores é que as estrelas M-dwarfs, sendo mais frias que o Sol, mantêm seus planetas próximos, o que faz com que a força gravitacional sobre esses corpos celestes seja imensamente forte. Isso resulta em planetas “trancados por maré”, ou seja, um hemisfério está sempre voltado para a estrela enquanto o outro permanece na escuridão.

O Impacto do Bloqueio de Maré

Planetas trancados por maré têm um ano que dura o mesmo que um dia. Um exemplo próximo a nós é Proxima Centauri b, no sistema Alpha Centauri, localizado a quatro anos-luz da Terra. A ausência de ciclos diurnos e sazonais nesses planetas levanta questões sobre como a vida poderia prosperar sem os ritmos circadianos aos quais estamos acostumados.

Na Terra, todos os seres vivos, dos humanos até as bactérias, possuem ritmos circadianos sintonizados com o ciclo de dia e noite. Esses ritmos afetam desde a regeneração celular até o comportamento. Por exemplo, estudos mostram que a resposta do sistema imunológico humano varia conforme o horário, sendo mais eficaz pela manhã.

Mas e se a vida evoluísse sem esses ciclos? É possível que seres em M-Terras nunca precisassem de descanso, funcionando de forma contínua. Para obter pistas, podemos observar organismos que já vivem em ambientes escuros na Terra, como animais das profundezas marinhas ou criaturas subterrâneas.

Vida sem Luz: O Caso dos Organismos Subterrâneos

Diversas formas de vida terrestres que vivem longe da luz solar demonstram que biorritmos podem ser regulados por outros estímulos. O rato-toupeira pelado, por exemplo, vive toda a sua vida no subsolo, mas mantém um relógio circadiano ajustado às variações de temperatura e umidade. Moluscos e camarões das profundezas se sincronizam com as marés oceânicas, enquanto bactérias no intestino humano seguem os ciclos de melatonina do hospedeiro.

Esses exemplos sugerem que os ritmos biológicos oferecem benefícios intrínsecos à vida, mesmo em ambientes sem luz. Em planetas como as M-Terras, outros fatores, como ventos térmicos, variações químicas ou mudanças de umidade, poderiam substituir os ciclos de dia e noite, influenciando a evolução de biorritmos.

Simulações Climáticas de M-Terras

Pesquisas recentes, utilizando modelos climáticos, simulam as condições atmosféricas em planetas trancados por maré, como Proxima Centauri b. As simulações mostram que, apesar de um hemisfério estar sempre voltado para a estrela, fenômenos como ventos rápidos e ondas atmosféricas podem criar variações cíclicas de temperatura e umidade. Com isso, os ciclos climáticos nesses planetas poderiam se estender por dezenas ou até centenas de dias terrestres, oferecendo um novo tipo de “relógio” para a vida nesses ambientes.

A Evolução de Ritmos Alienígenas

É possível que a vida em M-Terras desenvolva ritmos biológicos sincronizados com esses ciclos climáticos, em vez de depender da rotação planetária. Seres poderiam, por exemplo, habitar o lado iluminado para atividades biológicas e migrar para o lado escuro para descansar e regenerar-se, criando um “relógio circadiano espacial” ao invés de temporal.

Seja qual for a solução evolutiva adotada pela vida em planetas alienígenas, uma coisa é certa: será algo que desafiaria nossas expectativas. Como Cohen ressalta, a vida alienígena, caso exista, certamente nos surpreenderá de maneiras que não podemos prever.

Fonte:
Maureen Cohen, The Open University via The Conversation UK
Leia o artigo original aqui

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