Cientistas voltaram a discutir com novo embasamento a hipótese de que a vida terrestre possa ter se originado fora do planeta, após análises recentes das missões OSIRIS-REx (NASA) e Hayabusa2 (JAXA). Os resultados identificaram aminoácidos e compostos essenciais ao DNA e RNA em amostras de asteroides, reabrindo com força o debate sobre a panspermia, teoria segundo a qual os ingredientes da vida podem ter sido trazidos à Terra por cometas ou meteoritos.
Contexto
A teoria da panspermia surgiu há mais de meio século e foi popularizada pelos astrônomos Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe, que sugeriram que microrganismos ou seus precursores poderiam viajar entre planetas. Por décadas, a ideia foi considerada marginal pela ciência.
Em setembro de 2025, porém, ela voltou ao centro das discussões científicas após novos resultados laboratoriais das amostras do asteroide Bennu, coletadas pela OSIRIS-REx, confirmarem a presença de moléculas orgânicas complexas. Paralelamente, estudos independentes das amostras do asteroide Ryugu, trazidas pela Hayabusa2, reforçaram a detecção de compostos semelhantes.
Essas confirmações mudaram o status da hipótese: o que antes era tratado como especulação ganhou base empírica sólida, levando revistas científicas e veículos internacionais a classificarem o tema como “pauta quente” no campo da astrobiologia.
Evidências
O pesquisador Jason Dworkin, da NASA, informou que as amostras de Bennu contêm “14 dos 20 aminoácidos usados pela vida terrestre para formar proteínas”, além de sais e indícios de antigos fluxos de água. “Vemos evidências de veios deixados pela passagem de água, que secaram e formaram depósitos de sal”, disse.
Apesar disso, nenhuma forma de vida foi identificada. Dworkin compara o achado a “uma despensa cheia de ingredientes, mas sem as condições ideais para assar o bolo”.
Para o físico Paul Davies, da Universidade Estadual do Arizona, o novo interesse científico representa uma reavaliação histórica. “Quando a panspermia foi proposta, todos riram. Agora podemos dizer que havia um germe de verdade ali.”
Repercussão
O avanço das missões espaciais e a qualidade inédita das amostras colocaram o tema de volta na pauta de grandes revistas e conferências. Segundo Davies, se os blocos fundamentais da vida realmente vieram do espaço, “isso amplia a probabilidade de vida em outros mundos”.
Alguns pesquisadores retomaram inclusive hipóteses sobre transferência de material biológico entre Marte e a Terra, lembrando o episódio do meteorito Allan Hills 84001, encontrado na Antártida e apresentado em 1996 como possível evidência de vida marciana — um anúncio que chegou a ser comentado pelo então presidente Bill Clinton.
A diferença, agora, é que as análises recentes são quantitativamente verificáveis. Pela primeira vez, a presença de compostos orgânicos complexos em corpos celestes foi confirmada em múltiplas amostras trazidas por missões controladas, o que transforma a panspermia em objeto de investigação científica legítima e atual.
Próximos passos
A NASA e a JAXA ainda examinaram menos de 15% do material coletado em Bennu e Ryugu. Parte das amostras será preservada para futuras gerações, que poderão estudá-las com tecnologias ainda inexistentes.
Além disso, novas missões estão em andamento: o rover Perseverance em Marte prepara o retorno de amostras para a próxima década, e a Europa Clipper, que chegará a Júpiter em 2030, investigará se o oceano sob o gelo da lua Europa possui condições para a vida.
Cientistas também defendem o envio de uma missão específica para coleta de material de cometas, que são ainda mais ricos em compostos orgânicos do que os asteroides analisados até agora.
Fontes
- BBC Science Focus – “Scientists are now seriously asking if humans were seeded by aliens” (Jonathan O’Callaghan, 14 set 2025)
- NASA Goddard Space Flight Center
- JAXA – Japan Aerospace Exploration Agency







