O artigo “Who Wants to Believe in UFOs?” de Clare Coffey, publicado na revista The New Atlantis no verão de 2024, oferece uma análise rica e profunda sobre o fenômeno dos UFOs (ou UAPs). Em vez de tomar uma posição claramente a favor ou contra a crença em UFOs, Coffey explora as várias maneiras pelas quais esse tema reflete questões culturais mais amplas e persistentes, com foco nas diferentes reações de céticos e entusiastas. No Brasil, esse fenômeno também apresenta nuances culturais, como a denominação dos “exploradores” como científicos.
A autora divide sua análise em torno de dois grandes grupos que compõem o debate: os “disinformation-non-enjoyers” e os ufólogos. Dentro dos ufólogos, Coffey identifica duas subdivisões: os científicos (chamados exploradores no artigo) e os esotéricos. Com essa estrutura, Coffey traça um mapa detalhado das atitudes e motivações por trás da busca por respostas sobre UFOs.
Os Disinformation-Non-Enjoyers
Os “disinformation-non-enjoyers” são os grandes céticos do fenômeno UFO. Para eles, toda a discussão em torno dos UFOs se baseia em desinformação, manipulação social ou histeria coletiva. Esse grupo acredita que as histórias sobre UFOs e os relatos de avistamentos são propagados por pessoas mal-intencionadas ou por indivíduos excessivamente crédulos. Para eles, é crucial que afirmações extraordinárias sejam sustentadas por evidências extraordinárias, e, assim, rejeitam qualquer especulação sem bases concretas.
Os Científicos (Exploradores)
Os científicos, ou exploradores no contexto do artigo, têm uma abordagem que pode ser descrita como próxima à ficção científica. Eles acreditam que os UFOs são manifestações tecnológicas de formas de vida racionais e biológicas de outros planetas, com tecnologias muito mais avançadas do que as nossas. Esse grupo compartilha a ideia de que o mistério dos UFOs pode ser desvendado e estudado através de métodos científicos e que a humanidade tem muito a ganhar, tecnologicamente, de um possível contato com essas civilizações.
No Brasil, esse grupo é conhecido como científicos, reforçando o foco na investigação tecnológica e no uso da ciência para explicar esses fenômenos. Para os científicos, as motivações políticas e o segredo que cercam os UFOs se devem à necessidade dos governos de controlar a informação, evitar pânico e manter as vantagens tecnológicas em segredo. Em suma, eles acreditam que os UFOs fazem parte de uma realidade que ainda não compreendemos completamente, mas que é fundamentalmente acessível ao método científico.
Os Esotéricos
Já os esotéricos adotam uma visão bem diferente dos UFOs. Para esse grupo, os UFOs são manifestações de seres interdimensionais, atlantes ou entidades espirituais que coexistem conosco, mas que normalmente estão fora da nossa percepção. Em vez de focarem na ciência e tecnologia, como os científicos, os esotéricos veem os UFOs como parte de um mistério maior que envolve mitos, lendas e histórias antigas. Eles acreditam que essas manifestações estão ligadas a elementos ocultos da nossa própria história e buscam teorias abrangentes para explicar todos os fenômenos anômalos.
O Ciclo Repetitivo dos UFOs
Coffey faz uma observação perspicaz sobre o debate em torno dos UFOs: ele é cíclico e repetitivo. Desde os primeiros relatos e investigações até as revelações mais recentes, o que se observa é que o mistério dos UFOs parece sempre estar prestes a ser desvendado, mas nunca chega a uma conclusão definitiva. O público é deixado em um estado constante de expectativa, sem respostas concretas.
A autora descreve isso como uma “dança circular”, em que cada nova revelação ou relatório parece reiniciar o ciclo de debate e especulação, sem realmente levar a um avanço significativo na compreensão do fenômeno. Assim, os UFOs permanecem um mistério, continuamente alimentado por uma mistura de esperança, frustração e especulação.
A Busca Cultural pelo Desconhecido
Apesar de não tomar uma posição clara sobre a existência dos UFOs, Clare Coffey sugere que a busca por respostas em torno desses fenômenos revela uma insatisfação maior com a visão mecanicista do universo que domina a era moderna. Para os científicos, o interesse pelos UFOs reflete uma curiosidade por novas fronteiras tecnológicas e científicas, mas esse grupo já começa a desviar sua atenção para temas como a exploração espacial e a inteligência artificial, deixando os UFOs um pouco de lado.
Para os esotéricos, no entanto, os UFOs representam algo mais profundo e mais antigo. Eles veem os fenômenos como portais para mistérios ocultos da humanidade, buscando reconectar-se com mitos antigos e tradições espirituais que foram esquecidas na era moderna. O fascínio dos esotéricos vai além da tecnologia, e eles estão em busca de explicações que envolvem dimensões místicas e espirituais.
Conclusão
“Who Wants to Believe in UFOs?” é uma exploração sofisticada da forma como diferentes grupos abordam o fenômeno dos UFOs e o que isso revela sobre a sociedade contemporânea. Coffey destaca que, em última análise, o mistério dos UFOs não está apenas em encontrar evidências físicas ou respostas concretas, mas em como o fenômeno reflete a busca humana por algo além do mundo material.
No Brasil, os científicos desempenham um papel fundamental nesse debate, utilizando a ciência e a tecnologia para tentar decifrar o mistério, enquanto os esotéricos continuam a buscar respostas mais místicas e filosóficas. Coffey nos lembra que, no fundo, o fenômeno UFO pode ser menos sobre provas objetivas e mais sobre a forma como a humanidade tenta preencher as lacunas em sua compreensão do universo.
Assim, continuamos presos à “dança circular”, à espera de respostas que talvez nunca cheguem, enquanto a busca por UFOs continua a fascinar e a desafiar nossas noções de realidade.