Denunciantes de UFOs perdem confiança no Congresso dos EUA após omissões, sabotagens e falta de ação concreta nas investigações

A tensão entre denunciantes de programas secretos sobre fenômenos aéreos não identificados (UAPs) e o Congresso dos Estados Unidos atingiu um novo patamar. Acusações de manipulação, sabotagem de testemunhos e promessas quebradas vêm desmotivando os principais informantes do movimento por transparência — mesmo após as audiências históricas sobre UFOs em Washington desde 2023. O desabafo recente do ex-fuzileiro naval Michael Herrera e as revelações do documentarista Jeremy Corbell sobre o caso de Matthew Brown, autor do relatório “Immaculate Constellation”, escancararam o que parece ser uma crise de confiança sem precedentes.

Figuras envolvidas

NomeCargo/FunçãoCidade/EstadoPrograma/Evento relacionado
Michael HerreraEx-fuzileiro naval e denuncianteNão divulgadoTestemunho sobre operações clandestinas
Jeremy CorbellDocumentarista e investigador de UAPsNão divulgadoPodcast Weaponized, episódio #65
Matthew BrownEx-analista do Departamento de DefesaNão divulgadoAutor de Immaculate Constellation
Nancy MaceDeputada federal (Partido Republicano)Carolina do SulAudiências sobre UAPs
Anna Paulina LunaDeputada federal (Partido Republicano)FlóridaApoiadora de task forces sobre UAPs
Tim BurchettDeputado federal (Partido Republicano)TennesseeEnvolvimento com denunciantes
Michael ShellenbergerJornalista independenteNão divulgadoApresentador do relatório no Congresso
David GruschEx-oficial de inteligência e denunciante de UAPsNão divulgadoPrimeira audiência pública sobre UAPs

“Clown show”: ex-militar denuncia falta de seriedade

Em uma declaração dura publicada nas redes, Michael Herrera — que afirma ter presenciado operações ilegais envolvendo tecnologia não humana — acusou o Congresso de omissão deliberada. “Estamos cansados do teatro. Vocês já tinham essa inteligência há dois ou três anos. Por que não agem?”, questionou em vídeo. Ele criticou diretamente a deputada Anna Paulina Luna, que criou uma força-tarefa para investigar UAPs, mas não estaria agindo com seriedade para proteger e acolher os denunciantes.

“Nos prometeram segurança e acesso. Fizemos nossa parte. Mas na hora de agir, nos dão desculpas e desaparecem”, disse Herrera.

Caso Brown: sabotagem, omissão e “teatro político”

O caso do ex-analista do Departamento de Defesa Matthew Brown, revelado com detalhes contundentes por Jeremy Corbell, evidenciou de forma escancarada a crise de confiança entre denunciantes de UFOs e o Congresso dos EUA. Brown é autor do relatório confidencial intitulado Immaculate Constellation, que descreve um programa clandestino altamente estruturado de vigilância e inteligência voltado exclusivamente para UAPs — um sistema global supostamente operado sem o conhecimento ou controle do Legislativo.

Durante meses, Corbell protegeu Brown de exposição pública, enquanto verificava a autenticidade de seu relato e de seus documentos. Quando considerou o denunciante confiável e a denúncia madura, Corbell decidiu levá-lo pessoalmente a reuniões privadas com parlamentares envolvidos nas investigações sobre UFOs. Esses encontros ocorreram nos gabinetes de Tim Burchett, Anna Paulina Luna e Nancy Mace. Em cada reunião, Corbell retirou as câmeras e a equipe técnica, explicando aos congressistas que confiava no denunciante e que, para vetá-lo corretamente, era necessário que ele apresentasse diretamente sua história — nome verdadeiro, credenciais oficiais e documentos — aos parlamentares.

Brown não só fez isso, como entregou uma versão ampliada de 22 páginas do relatório e manifestou formalmente seu desejo de testemunhar sob juramento. Em resposta, os congressistas lhe prometeram uma vaga na audiência pública seguinte sobre UAPs. Segundo Corbell, isso não só nunca aconteceu, como foi propositalmente sabotado.

No dia da audiência, Nancy Mace leu em voz alta trechos do relatório de Brown, mas atribuiu a autoria a Michael Shellenberger, jornalista independente que, de acordo com Corbell, só teve acesso ao documento na noite anterior à audiência. Corbell, que estava na sala, confrontou Shellenberger diretamente: “Ela acabou de mentir. Você vai corrigir isso?”, teria gritado. O jornalista teria permanecido em silêncio, o que Corbell interpretou como conivência com a manipulação deliberada da autoria.

“Eles pegaram uma denúncia legítima, com evidência de primeira mão, e a transformaram em testemunho de segunda mão — manipulando quem podia falar, quando e como”, afirmou Corbell no podcast.

O próprio Corbell e o jornalista investigativo George Knapp também estavam escalados para testemunhar, mas foram excluídos nos últimos momentos, segundo eles, porque assessores do Congresso estariam mais interessados em saber se possuíam vídeos inéditos ou materiais que pudessem ser usados politicamente — o que Corbell classificou como uma tentativa de “armadilha institucional”.

A gravidade da situação não se resume ao veto de Brown. Segundo Corbell, o episódio comprova que o Congresso está selecionando a dedo os mensageiros da narrativa sobre UFOs, favorecendo figuras públicas mais controláveis ou previsíveis, enquanto silencia denunciantes que realmente participaram de operações secretas ou que podem comprometer interesses maiores.

“Isso foi teatro. Uma farsa. Eles encenaram transparência enquanto escondiam a verdade. Não é que Matthew Brown não estivesse pronto — é que eles nunca quiseram que ele fosse ouvido”, concluiu Corbell.

Esse caso representa um divisor de águas para os denunciantes e para o movimento por transparência em torno dos fenômenos aéreos não identificados. A partir dele, a confiança já abalada passou a dar lugar a desistências, desmotivação e um medo crescente de exposição sem proteção institucional real.oram excluídos. Segundo o documentarista, havia uma tentativa de testar se eles possuíam material exclusivo como vídeos ou evidências inéditas — o que, para ele, configura uma espécie de “armadilha institucional”.

David Grusch e o retrocesso na transparência

Desde que David Grusch trouxe à tona denúncias sobre recuperação de “biológicos não humanos” em operações militares, nenhum avanço concreto foi feito pelo Congresso. Parlamentares antes engajados, como Kirsten Gillibrand, também parecem ter recuado. Segundo Chris Mellon, ex-subsecretário de Defesa, hipotéticas ameaças pessoais podem ter silenciado membros do Congresso, inclusive por meio de chantagens envolvendo seus filhos.

Esses recuos levantam dúvidas graves sobre o real compromisso institucional com a transparência.

Desilusão crescente e paralisia política

Denunciantes estão agora cada vez mais relutantes em se apresentar. A promessa de escuta, proteção e seriedade está sendo quebrada. O caso de Matthew Brown é visto como um divisor de águas.

Apesar de múltiplos encontros com congressistas, de documentos e credenciais entregues em sigilo, Brown foi deixado de lado — e o Congresso fingiu que nada aconteceu.

“É cada vez mais claro que existem porta-vozes escolhidos a dedo, enquanto testemunhas reais são silenciadas ou substituídas por versões ‘controladas’”, afirma Corbell.


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