Pesquisadores, testemunhas e especialistas de diferentes áreas se reuniram na Rice University, em Houston, entre os dias 4 e 6 de abril de 2025, para debater os impactos culturais, políticos e filosóficos dos fenômenos aéreos não identificados (UAPs), durante a terceira edição da conferência Archives of the Impossible.
O encontro marcou a edição mais voltada à questão dos UAPs desde a criação da conferência e reuniu astrônomos, antropólogos, filósofos, historiadores militares e pessoas que afirmam ter vivido experiências com inteligências não humanas, em um ambiente de escuta, pesquisa e debate interdisciplinar.
Organizado pelos professores Jeffrey J. Kripal e William B. Parsons, em parceria com a gestora de projeto Karin Austin e a professora Diana Pasulka, o evento não buscou responder definitivamente o que são os UAPs, mas sim refletir sobre o novo lugar que o tema ocupa na sociedade contemporânea.
“O UFO é uma brecha para outras questões, e é isso que está no centro da cultura política, da cultura militar e da cultura popular”, afirmou Kripal.
Abertura ao diálogo e legitimidade acadêmica
A conferência se destaca por não adotar uma posição de crença ou ceticismo, mas sim pela valorização da documentação, do diálogo e da confiança como fundamentos do debate. A iniciativa nasceu após a doação do acervo do pesquisador Jacques Vallée ao Woodson Research Center, da própria Rice University. Vallée, astrônomo e cientista da computação, foi uma das inspirações para o filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau.
“Jacques acredita profundamente nos arquivos físicos porque viu como o governo e as comunidades de inteligência militar fragmentam o tema em áreas classificadas e impedem o avanço da pesquisa”, explicou Kripal.
Atualmente, o Archives of the Impossible já reúne 18 acervos documentais, incluindo os arquivos do físico Ed May, do escritor Whitley Strieber e do psiquiatra de Harvard John E. Mack, cuja contribuição soma 150 caixas com entrevistas sobre supostos sequestros por entidades não humanas.
De ficção científica à pauta política
O evento deste ano refletiu o crescente reconhecimento público do tema, impulsionado por audiências no Congresso dos EUA, pronunciamentos oficiais e cobertura na imprensa internacional. Questões antes relegadas à ficção científica ganharam novo status no debate público e acadêmico.
“Para mim, é uma espécie de ‘eu avisei’, porque muitos de nós percebemos há décadas que era algo sério”, disse Kripal.
Interdisciplinaridade como chave
A pluralidade foi uma marca do encontro. Participantes chegaram à Rice University movidos por diferentes objetivos — uns para questionar, outros para relatar —, mas todos com a disposição de ouvir.
“Não acho que possamos compreender esse tema a partir de uma única disciplina. Precisamos do pacote completo. Mesmo assim, duvido que consigamos entender plenamente. E é justamente isso que o torna fascinante”, observou Kripal.
Segundo ele, o futuro do projeto Archives of the Impossible está na criação de um centro permanente que garanta a continuidade do trabalho iniciado, com enfoque na formação de uma comunidade de pesquisadores e pensadores comprometidos com a exploração rigorosa das fronteiras da experiência humana.
“Quero ver surgir uma base material para essa conversa, algo que continue quando já não estivermos mais aqui. Para mim, é uma investigação multigeracional”, concluiu.
