Entenda o erro de Luis Elizondo no Congresso dos EUA ao apresentar círculos de irrigação como UFO

O ex-oficial de inteligência do Pentágono Luis Elizondo, uma das vozes mais proeminentes do movimento por transparência sobre objetos voadores não identificados (UAPs), está no centro de uma crise de credibilidade após exibir no Congresso dos Estados Unidos uma imagem que alegadamente mostraria uma nave anômala. A fotografia, apresentada como exemplo de registro feito por um piloto civil, foi desmascarada poucas horas depois como uma formação comum de agricultura: círculos de irrigação visíveis por satélite em áreas rurais dos EUA.

A imagem e a falha que era evitável

A imagem foi apresentada durante o fórum como um exemplo preocupante de como pilotos civis não têm canais formais para relatar o que observam nos céus. Elizondo explicou que a foto havia sido entregue por um piloto particular na manhã do próprio evento e que ele não teve tempo de verificar sua autenticidade:

Recebi esta imagem de um piloto civil hoje de manhã. Ela mostra um objeto entre 600 e 1000 pés de diâmetro a uma altitude de 21 mil pés. Não posso atestar a veracidade, mas mostra o tipo de coisa que os pilotos veem e não sabem onde relatar”, disse ao Congresso.

A explicação, porém, não convenceu. A imagem foi analisada por internautas e especialistas e, em poucas horas, foi identificada com precisão no Google Earth como parte de uma plantação com sistema de irrigação circular. Mais grave ainda, ao se observar a imagem em contexto ampliado, nota-se que há vários outros círculos de irrigação visíveis ao redor da mesma área, o que torna inacreditável que um piloto experiente tenha confundido aquilo com um fenômeno anômalo.

Críticos apontam que esse tipo de formação é extremamente comum em regiões áridas dos Estados Unidos como o Novo México e o Arizona. Pilotos acostumados a voar sobre áreas agrícolas, especialmente em altitudes elevadas, reconhecem essas formações com facilidade. Isso levanta dúvidas sérias sobre a confiabilidade do suposto autor da foto — e sobre o discernimento de Elizondo ao trazê-la a público.

Erro reincidente e desgaste de confiança

O episódio seria menos grave se fosse um caso isolado. Mas não é a primeira vez que Luis Elizondo apresenta uma imagem supostamente “anômala” que acaba sendo desmentida. Em 2023, ele exibiu em um evento fechado uma imagem tirada na Romênia, apresentada como “nave-mãe”, que posteriormente foi revelada como o reflexo de um lustre fotografado através de uma janela.

Richard Dolan, historiador e pesquisador respeitado dentro da comunidade ufológica, foi direto:

Esse é o segundo erro grosseiro em menos de um ano. Não dá para culpar só a imprensa ou os céticos. O movimento UAP precisa ser criterioso se quer ser levado a sério no nível institucional. Não se pode chegar ao Congresso dos EUA com uma imagem dessas.”

Além disso, o analista Patrick, do canal Vetted, foi ainda mais incisivo:

“Luis está tentando suavizar dizendo que era só uma ilustração para falar da falta de canal de denúncias. Mas sejamos honestos: ele acreditava que era algo importante, talvez até inédito. O problema é que foi um erro grosseiro. E ele é alguém que diz ter acesso a informações sensíveis. Se ele não consegue reconhecer círculos de irrigação, como podemos confiar em qualquer outra análise dele?”

Uma exposição que custou caro ao movimento

A apresentação de Elizondo ocorreu durante um fórum no qual estavam presentes parlamentares como Anna Paulina Luna e Matt Gaetz, que colocaram seu capital político em risco ao endossar debates sobre tecnologia não-humana recuperada e sensores militares capazes de detectar UAPs. O fórum também teve a participação de nomes como o almirante Tim Gallaudet, que trouxe testemunhos validados de encontros com objetos não identificados, e do físico Eric Davis, que discutiu espécies alienígenas como reptilianos, nórdicos e “greys”.

Ao introduzir uma imagem duvidosa e não verificada, Elizondo tirou o foco dos dados técnicos e testemunhos relevantes, criando uma distração que — como muitos alertaram — será usada pelos céticos para desacreditar todo o movimento.

A comunidade UAP não pode mais cometer erros desse tipo. Isso enfraquece toda a luta por transparência e investigação séria”, afirmou Dolan.

Um pedido de desculpas com ressalvas

Após a polêmica, Elizondo publicou um vídeo em que reconhece o erro de julgamento, mas insiste na intenção original:

A imagem era apenas um exemplo de como pilotos civis não têm onde relatar o que veem. Eu disse que não era verificada. Se isso gerou confusão ou desvio de foco, peço desculpas. Assumo total responsabilidade.”

Apesar do pedido de desculpas, ele também tentou justificar sua decisão com argumentos que soaram contraditórios para parte da comunidade:

“Mesmo que fosse uma foto de um tênis voador, o ponto era: por que não há um canal de denúncias? Mas, sim, olhando agora, isso foi uma distração. Isso não deveria ter acontecido.”

E agora, qual o impacto?

A sucessão de gafes — associada ao fato de Elizondo ser tratado como porta-voz oficioso do fenômeno UAP em órgãos oficiais — levanta dúvidas mais amplas. Muitos se perguntam: quem está validando as informações levadas ao Congresso? Quem avalia o conteúdo antes de ser mostrado ao público?

A falta de um protocolo de verificação antes de exibir conteúdos em fóruns oficiais revela uma fragilidade institucional do próprio movimento UAP. Se figuras centrais como Elizondo cometem erros assim sob os holofotes, como esperar que a opinião pública, o Congresso ou os meios científicos levem a pauta a sério?

A falha aqui não é só técnica. É estratégica. É de credibilidade. E credibilidade é tudo neste momento”, concluiu Patrick.

O movimento por transparência em torno dos fenômenos UAPs vive um momento delicado — avançando em reconhecimento oficial, mas vulnerável a erros que podem custar anos de progresso.

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