A transparência sobre UAP (Fenômenos Anômalos Não Identificados) voltou a emperrar em Washington. Segundo análise do jornalista Christopher Sharp, do site Liberation Times, a liderança do Congresso abandonou novamente a implementação completa da chamada UAPDA, sigla para Unidentified Anomalous Phenomena Disclosure Act — a Lei de Divulgação de Fenômenos Anômalos Não Identificados, criada para ampliar o acesso público a informações oficiais sobre esses casos.
A UAPDA não foi incluída na versão final da NDAA, a National Defense Authorization Act, ou Lei de Autorização de Defesa Nacional, que define o orçamento e as prioridades do setor militar dos Estados Unidos para o ano fiscal de 2026 e deve ser sancionada pelo presidente Donald Trump. Para Sharp, isso coloca o futuro da proposta em situação incerta, apesar do crescente interesse público no tema.
A legislação havia sido apresentada originalmente em 2023 pelo então líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, do Partido Democrata, junto com o senador republicano Mike Rounds. Depois de resistência interna, especialmente na Câmara, apenas uma versão bastante reduzida da proposta acabou sendo aprovada dentro da NDAA de 2024.
Na época, Schumer e Rounds chegaram a fazer um pronunciamento conjunto no plenário do Senado demonstrando frustração e prometendo continuar lutando pela versão completa do texto. Entre os pontos centrais da UAPDA estava a criação de um conselho independente de revisão, formado por nove cidadãos indicados pelo presidente e confirmados pelo Senado, com poder para avaliar quais registros sobre UAP poderiam ser tornados públicos.
O projeto também previa que o governo federal garantisse a posse de qualquer material recuperado relacionado a UAP, incluindo possíveis evidências biológicas, mesmo que estivessem sob controle de empresas privadas. A ideia era impedir que esse tipo de informação ficasse fora do alcance do Congresso e da sociedade.
Apesar de ter sido reapresentada em 2024 e novamente em 2025, a UAPDA não avançou. Sharp destaca que tanto Schumer quanto Rounds passaram a se manifestar menos publicamente sobre o assunto, algo que chama atenção diante da postura mais combativa adotada por eles no passado.
Outros parlamentares ligados à pauta de UAP, como a senadora Kirsten Gillibrand, que teve papel importante na supervisão da AARO — All-domain Anomaly Resolution Office, o Escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios do Pentágono — também reduziram o tom. Marco Rubio, hoje secretário de Estado e atuando como conselheiro de Segurança Nacional, é citado como outro nome que deixou de pressionar abertamente por novas medidas.
Na avaliação de Sharp, o cenário político mudou. Com o Partido Republicano controlando a Câmara e o Senado, qualquer avanço relevante dependeria de apoio direto da liderança e, possivelmente, da Casa Branca. A ausência desse apoio sugere, segundo o jornalista, que o governo Trump não está disposto a bancar uma investigação mais profunda sobre alegações de recuperação e engenharia reversa, ou reverse engineering, termo usado para descrever a tentativa de entender uma tecnologia desmontando algo já existente.
Mesmo assim, alguns deputados seguem insistindo no tema, especialmente no Comitê de Supervisão da Câmara. Nomes como Eric Burlison, Anna Paulina Luna e Tim Burchett continuam defendendo audiências, desclassificação de documentos e até o uso de intimações para forçar depoimentos de possíveis detentores de informações sensíveis.
Sharp relata ainda que fontes ouvidas pelo Liberation Times falam em pressões políticas, desgaste interno e até preocupações com segurança pessoal de assessores como fatores que teriam esfriado o entusiasmo de senadores que antes lideravam a pauta. Ele ressalta que essas informações vêm de bastidores e são atribuídas a fontes anônimas.
A análise também menciona alegações mais graves feitas por fontes do site, envolvendo supostos drones de origem chinesa com tecnologias avançadas e relatos sobre atividades incomuns perto de instalações militares dos EUA. Sharp deixa claro que se trata de afirmações atribuídas a fontes e que, se confirmadas, teriam implicações sérias para a segurança nacional. Até o momento, não há confirmação oficial dessas alegações.
No conjunto, o texto de Sharp pinta um quadro de estagnação institucional. Para ele, a falta de avanço da UAPDA indica que, apesar do discurso público e do interesse popular crescente, a transparência sobre UAP ainda encontra resistência significativa nos níveis mais altos do poder político americano.







