A reação do público ao ouvir Edison Boaventura Jr. no programa “O Povo Quer Saber”, de Chico Barney, diz muito menos sobre o ufólogo e muito mais sobre o enorme descompasso entre o que já está documentado na ufologia brasileira e o que o público realmente conhece. A impressão geral nas redes foi de espanto, choque e até incredulidade. Mas o curioso é que quase tudo que pareceu “surreal” na entrevista está registrado, discutido e publicado há décadas.
O que surpreendeu, na verdade, foi perceber pela primeira vez temas que são clássicos dentro da ufologia. Quando Boaventura menciona o Caso Antônio Vilas-Boas, de 1957 — um dos relatos mais estudados do mundo sobre abdução — muitos reagiram como se fosse uma história inédita. O episódio do lavrador mineiro levado a bordo de uma nave, examinado e colocado diante de uma figura feminina, por exemplo, é discutido desde os anos 60 em livros, congressos e pesquisas internacionais. Mas para milhões de pessoas que só encontraram esse tema agora, a sensação foi de novidade absoluta.
O mesmo vale para o chamado missing time (tempo perdido), expressão muito usada na ufologia para descrever lapsos temporais durante supostas abduções. O caso recente narrado por Boaventura, envolvendo dois técnicos em Cláudio (MG) que chegaram desorientados após um encontro com luzes e seres luminosos, segue um padrão amplamente relatado em estudos do fenômeno. Nada disso é novo para quem acompanha o assunto, mas tudo parece inédito para quem nunca teve contato organizado com ele.
Até a discussão sobre tipologias — como os seres conhecidos como greys ou a chamada “tipologia gama”, que inclui criaturas peludas frequentemente confundidas com lobisomens — existe há décadas em grupos de pesquisa. Ainda assim, a surpresa do público foi real, porque poucas pessoas sabiam que esses debates existiam, ou que casos como Varginha incluíam mais de um tipo de testemunho.
O que a entrevista escancarou é esse abismo entre o que a ufologia brasileira já consolidou como material histórico e o que o público geral realmente conhece. Em vez de parecer uma exposição de casos estudados, a conversa soou quase como uma coleção de revelações bombásticas — e isso só aconteceu porque o tema nunca esteve acessível de forma clara, contextualizada e contínua para a maior parte da sociedade.
A fala de Boaventura viralizou não por trazer fatos inéditos, mas porque ilustrou o quanto o desconhecimento público transforma histórias antigas em novidades chocantes. Numa área onde há registros históricos, depoimentos, análises laboratoriais e investigações há mais de meio século, muita gente ainda está ouvindo certas coisas pela primeira vez.
E esse é exatamente o ponto: quando o público não tem acesso a informação de qualidade, qualquer fragmento de um caso clássico parece extraordinário. A entrevista de Chico Barney funcionou como uma lupa revelando uma verdade simples. O Brasil tem um dos acervos ufológicos mais ricos do mundo, mas a maior parte dele permanece fora do alcance do grande público.
Informar-se sobre ufologia, portanto, não é apenas “acreditar ou não acreditar”. É entender como isso tudo nasceu, quem estudou, o que é fato, o que é hipótese, o que foi descartado e o que continua sem resposta. Sem esse repertório, o choque do público se repete toda vez que uma entrevista como a de Chico traz à tona episódios que, dentro do campo ufológico, são tão conhecidos quanto um livro de história.







